"Educar é coisa do coração"

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"Educar é coisa do coração" São Bosco

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Igreja Militante e Contra quem lutamos? Parte I. O mundo.

"A Igreja Militante é a sociedade de todos os fiéis que ainda vivem na Terra. Chama-se Militante porque está obrigada a manter uma guerra incessante contra os mais cruéis inimigos: o mundo, a carne e o Diabo." - Concílio de Trento

Já dizia Santo Tomás de Aquino que, em caso de desordem procure a autoridade. Toda autoridade tem o poder e dever de orientar os seus subordinados, seus servos e colocar ordem no caos. 


Com o advento do modernismo, o pensamento modernista, humanista, liberal do homem colocou o ser em riscos muito mais que riscos materiais, riscos meta-físicos. 

Nesta era moderna, o pensamento progressista tem utilizado mais o termo Igreja Peregrina e dando ênfase apenas nisso, deixando um pouco de lado o termo Igreja Militante, termo adotado pelos Catecismos. A Igreja em sua totalidade ela é Una, mas com suas três partes: Igreja Celeste (no Céu), Igreja Padecente (no Purgatório) e a Igreja Militante, no qual se refere principalmente o Nono artigo do Credo: "Et unam, sanctam, Catholicam et Apostolicam Ecclesiam.1 (Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica) 

De fato, a Igreja é também, mas não somente peregrina, é peregrina porque o peregrino caminha por um local que não é dele, ele não vive e habita ali e não é seu fim ultimo ali. Para entendermos melhor isso, tenhamos o principal alicerce sobre Igreja: Igreja é o Corpo de Cristo, cuja cabeça é o próprio Cristo e nós os seus membros. Ora, um corpo não vive sem a cabeça e a cabeça precisa do Corpo para manter sua sabedoria, ensinamentos e obras em andamento. Assim é a dinâmica que move a Igreja. Deus se fez homem, para que o homem se unindo a Ele se tornem ambos um só corpo - Ut unum sint - que todos sejam um. Acontece que a cabeça, Cristo, não é deste mundo.2 

Num silogismo simples, se a cabeça não é deste mundo e nós somos parte deste corpo cuja cabeça é Cristo, logo, não somos também deste mundo. Num outro momento Cristo nos apresenta que não veio condenar o mundo, mas salva-lo.3. Ora, se algo precisa ser salvo é porque algo corre perigo. Então, qual seria este perigo? 


O mundo é uma criação Divina, sendo assim, algo bom. São João de Deus já afirmara que como tudo vem de Deus, louvado seja tudo. Então se o mundo é uma criação divina e de origem boa, porque seria inimigo da Igreja? 

A verdade é que o homem, manchado pelo pecado original agora tem suas inclinações internas, paixões, que quando não ordenadas levam ao vício que são hábitos ruins provenientes de repetidos atos maus.4. Sendo o pecado o mal que afasta o homem de Deus, então num mundo composto por homens pecadores, acaba a criação de Deus sendo afastado de sua origem, o próprio Deus que é a origem e o sumo bem. 

A partir daí percebemos que, num Estado Laico, por exemplo, onde se retira qualquer influência da Igreja, Corpo de Cristo, finda a seu afastamento de Deus e consequentemente a desordem e o caos. 

Agora fica um pouco mais claro que, desde a redenção de Cristo que nos mereceu o prêmio da Salvação, o homem precisa travar inúmeras batalhas, vender suas túnicas e comprar suas espadas.5, pois o próprio Cristo afirma que não veio trazer a paz à Terra, mas a espada.6. Fato este que nesta união entre Deus e o homem, Nosso Senhor confirma que no mundo teremos tribulações e que seremos odiados por causa do Teu santo nome.7

Não por acaso, a Igreja enfrentou em nome de Cristo as maiores ameaças como a perseguição Cristã nos Impérios, os Muçulmanos quando o Papa Urbano II convocou as Cruzadas, o liberalismo, a Revolução Francesa, o Comunismo, Socialismo, a Cristiada no México, o Protestantismo, entre tantos outros. 

Quando falamos de Igreja Militante, devemos ter a clara ideia de que, qualquer militar marcha, acata ordens, obedecem a Hierarquia, luta em comum com os demais agentes por alguma causa e por algum objetivo. É o que nos exemplifica São Paulo quando diz que combateu o bom combate, terminou a corrida e guardou a fé.8.
A Igreja é antes militante que peregrina porque não importando o lugar onde esteja sempre estará em combate com a corrupção do homem decaído. 

A Igreja conduzida pelo Espirito Santo, santificador dos membros, condenou durante seus concílios dogmáticos as heresias durante os séculos. Além dos documentos infalíveis, três grandes exemplos atuais são os documentos: Pascendi Dominici Gregis do Papa São Pio X condenando o modernismo, a Carta Divinis Redemptoris do Papa Pio XI e o Decretum conra communismum de Pio XII.

Infelizmente, como disse o Papa Paulo VI: "A fumaça de Satanás entrou na Igreja". Essa é uma expressão muito forte, mas visível dentre os pensamentos de alguns bispos progressistas que a partir do Concílio Vaticano II, implementaram através de um falso otimismo, um projeto de criar aqui o paraíso, muitos padres começaram a alimentar as ideias liberais da Revolução Francesa desenvolvendo até a Teologia da Libertação de caráter Marxista em suas dioceses. O pensamento progressista, esse "mundo novo" que exclui a justiça da misericórdia, deu abertura ao liberalismo que desconfigurou propriedades muito importante da Igreja como as músicas sacras, a arquitetura, a forma de oração, começa a abominar a língua oficial da Igreja, a modéstia e a vida contemplativa. Transformam através de seus inclinações internas e pessoais o autêntico Santo Sacrifício do Calvário, em festas. 

Santo Tomás de Aquino diz que a batalha entre São Miguel Arcanjo e Satanás foi no campo do intelecto. 
Como afirma a Doutrina Social da Igreja, o pensamento liberal deu abertura ao comunismo. É nesse pensamento de falso otimismo onde não se condenam os erros e fica preso no âmbito pastoral, dos atos humanos, que infelizmente muitos católicos começaram a dialogar com o erro e não o errado, com o pecado e não com o pecador apenas. Santo Tomás de Aquino mostra que a verdadeira doutrina é uma ciência especulativa pois busca antes de tudo o Reino dos Céus e não prática, o paraíso na Terra pelos atos humanos. 



Nada disso é novidade, vejamos o que nos diz o atual Catecismo da Igreja Católica:

"A PROVAÇÃO DERRADEIRA DA IGREJA 
Antes do advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final que abalará a fé de muitos crentes. A perseguição que acompanha a peregrinação dela na terra desvendará o "mistério de iniquidade" sob a forma de uma IMPOSTURA RELIGIOSA que se há de trazer aos homens uma solução aparente a seus problemas, à custa da APOSTASIA DA VERDADE. A IMPOSTURA RELIGIOSA SUPREMA É A DO ANTICRISTO, isto é, a de um pseudomessianismo em que o homem glorifica a si mesmo em lugar de Deus e do seu Messias que veio na carne.
Esta impostura anticrística já se esboça no mundo toda vez que se pretende realizar na história a esperança messiânica que só pode realizar-se para além dela, por meio do juízo escatológico: mesmo em sua forma mitigada, a Igreja rejeitou esta falsificação do Reino vindouro sob o nome de milenarismo, sobretudo sob a forma política de um messianismo secularizado, "intrinsecamente perverso".
A IGREJA SÓ ENTRARÁ NA GLÓRIA DO REINO POR MEIO DESTA DERRADEIRA PÁSCOA, em que seguirá seu Senhor em sua Morte e Ressurreição. PORTANTO, O REINO NÃO SE REALIZARÁ POR UM TRIUNFO HISTÓRICO DA IGREJA segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o desencadeamento último do mal, que fará a Esposa descer do Céu. O triunfo de Deus sobre a revolta do mal assumirá a forma de Juízo Final depois do derradeiro abalo cósmico deste mundo que passa."9 
Hoje como nos ensina as Sagradas Escrituras sobre reconhecer a verdade, a árvore pelos frutos. Podemos observar a propagação da cultura de morte pelo comunismo e o socialismo. Movimentos até dentro da Igreja de jovens e mulheres defendendo o aborto, justificando crismes de bárbaros como estupradores os colocando como "vítima da sociedade", regimes totalitários que matam a longo e curto prazo seus povos, tirando a defesa de seu povo. Talvez a citação acima do Catecismo da Igreja Católica justifique a triste e pesada pergunta de Nosso Senhor: "Digo-vos que lhes fará justiça muito em breve. Mas quando o Filho do Homem voltar, encontrará fé sobre a terra?"10. Tal pergunta tem um peso tão profundo que seria como se Cristo fosse se deparar novamente com uma pequena Igreja de fiéis que de fato, foram os únicos que guardaram o depósito da fé. 

Acontece que com a ditadura do relativismo como nos apresentou o Papa Bento XVI, retira da sociedade a ideia de que a verdade seja algo único, não por acaso criam vários "Cristos" em suas próprias concepções. Também esta ditadura do relativismo que a Igreja Militante deve lutar, pois muitas almas vão para o inferno justamente porque se altera as verdades que guardam a alma. Alguns podem rotular todo zelo como farisaísmo, mas acontece justamente que não é este o caso, mas por exemplo, quando se relativiza a Caridade, que exige a verdade, pois caso contrário é sentimentalismo, não conseguimos nos assemelhar ao Pai. Seria uma falsa caridade, algo seletivo, passageiro e não cristão.

A obra "A Verdadeira Devoção ao Espírito Santo" do Monsenhor Luís María Matínez, exemplifica bem essa realidade, pela Caridade (com a verdade) nos assemelhamos ao Espirito Santo, pois a Caridade é fruto dEle, assim adquirimos Sabedoria na prática da Caridade, Dom do Espírito Santo e a Sabedoria maior de todas é de Cristo, nos assemelhando então ao Filho e quem vê o Filho vê quem O enviou, ou seja, semelhança ao Pai. 
Com a falta da verdade o povo de Deus pode ficar rodando em círculos no deserto como o povo andava com Moisés. 

Como o homem é dotado de corpo e alma, mas a alma é composta de intelecto e vontades, o corpo é corruptível, mas a alma é eterna, ela se condena ou se salva. 

Então, podemos concluir que, quanto ao mundo, a Igreja Militante deve lutar contra as ideologias,  as heresias já condenadas pela Igreja pelo magistério e nos foi herdado pela tradição. Visivelmente recomendação orientada pelo Apóstolo São Paulo: "Eu te conjuro, diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de vir julgar os vivos e os mortos, pela sua Aparição e por seu Reino: proclama a palavra, insiste, no tempo oportuno e no inoportuno, refuta, ameaça, exorta com toda paciência e doutrina. Pois virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, seguindo os seus próprios desejos, como que sentido comichão nos ouvidos*, se rodearão de mestres; Desviarão os ouvidos da verdade, orientando-os para as fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em tudo, suporta o sofrimento, faze o trabalho de evangelista. realiza plenamente teu ministério."11 

As Sagradas Escrituras começam com Gênesis falando da criação do Céu e da Terra12, e termina também com o livro do Apocalipse falando de uma Nova Terra e Novo Céu.13 Cristo não veio condenar o mundo, mas salva-lo justamente porque quer salvar o homem do pecado que o afasta de Deus, então salva o mundo salvando o homem. Por isso, pela Igreja, Nova Terra e Novo Céu, a Nova Jerusalém, o mundo é bom, mas não é o paraíso, mas bom por ser criação de Deus, mas é no mundo obscuro pelo pecado que ocorrem as lutas, ou seja, no mundo que retiram Deus. O mundo que O odiou.
Pelo batismo somos chamados a santidade, pois devemos ser santos porque Nosso Senhor é santo. "Quando alguém está em Cristo é uma nova criatura, e então pode-se dizer: o antigo desapareceu, vede: tudo é novo!".14



Batalha de Ourique 




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Notas:
*Os desejos, sentidos e comichão ditos por São Paulo são as paixões, inclinações e comoções internas.
1- (Catec. São Pio X. n. 148).
2- (Jo, XVIII, 36)
3-  (Jo XII, 47)
4-  (Catec. São  Pio X, n. 956)
5-  (Lc XXII, 36)
6-  (Mt X, 34)
7-  (Lc XXI, 17)
8-  (II Timóteo IV, 7)
9-  (CIC-675)
10-  (Lc XVIII, 8)
11-  (II Tm IV, 1-5)
12-  (Gn I, 1)
13-  (Ap XXI, 1)
14-   (II Cor. V, 17)

Bibliografias:

- Bíblia Sagrada
- Catecismo Maior de São Pio X
- Catecismo da Igreja Católica
-  A Verdadeira Devoção ao Espírito Santo, Mons. Luís María Martínez
- Concílio de Trento
- Permanência Internet, "O mundo, a carne e o diabo: cruéis inimigos da Igreja e da alma."