Para tratarmos sobre o
porque nem todas as músicas serem litúrgicas, vejamos uma breve frase que
sintetiza bem o que é a liturgia:
"A Liturgia é uma
ação sagrada, com ritos, na Igreja e pela Igreja, pela qual se realiza e se
prolonga a obra sacerdotal de Cristo, para a santificação dos homens e a
glorificação de Deus.1"
Então a partir daí
podemos ter uma breve conclusão de imediato: Liturgia é um Rito Divino. Logo,
se é Divino é de Deus, sendo Ele o centro, a partir do momento em que o homem
assume esse lugar no rito, este não se torna mais divino e se resume em algo
mais antropológico, voltado para o homem, o homem no centro.
E o que leva o homem
assumir a postura de ser o centro do rito?
Primeiro tenhamos em
mente que o homem é dotado de inteligência e vontade, pois é o que o torna
racional. Entretanto, existe mais um vetor que entra na história que são suas
paixões que nada mais são que as comoções ou movimentos violentos da alma que,
se não são moderadas pela razão, arrastam ao vício e, muitas vezes, inclusive
ao crime.2
Isso é devido a sua
falta de referência do que é sagrado, o que se celebra e o que se deve seguir.
Após o Concílio Vaticano II, foi pedido para que os Crucifixos Maiores fosses
colocados no centro da Igreja para mostrar que Cristo é o Centro, porém, alguns
sacerdotes (que também são homens), ao ficar agora de costas para cruz parecem
que perdem totalmente o referencial e, agora o que ele olha diante de si são
apenas mais homens. Os mesmos que possuem tanto vícios como virtudes. Agora
esse padre tem esses outros homens (assembléia) como primeira referência visual
e, isso pode acarretar em alguns crimes litúrgicos. O primeiro dele já começa
com o consentimento do pensamento em que a Santa Missa deve agradar ao homem
por meio de suas reações sentimentais, positivas ou negativas. Aí é onde mora o
perigo, a cultura do: "Precisamos de uma missa alegre, a missa do
povo". Quando esse pensamento cria raízes, agora a missa não tem como o
principal objetivo ser celebrada e sim ser "sentida", uma missa para
ser boa "eu tenho que sentir", a partir daí cria a mentalidade:
"vamos à missa de padre fulano, lá é animada, ele tem a unção."
Onde que entra a música
nisto?
Muito simples, nessa
época moderna em que vivemos, muitos templos já não possuem mais aquela
arquitetura contemplativa que nos remetia a algo ou uma inspiração divina como
nas antigas Igrejas. Logo, torna mais exigente da música trazer até a
assembléia essa espiritualidade.
Quantas vezes por
exemplo estamos na Santa Missa e com o pensamento em qualquer outra coisa ou em
qualquer outro lugar? Como conseguimos desprender nossa atenção assim tão
facilmente de algo que a princípio seria divino?
Para estas perguntas
tenhamos alguns artigos em mente, o seguinte ensinamento do Motu Proprio de São
Pio X sobre música sacra:
"Entre os cuidados
do ofício pastoral, não somente desta Suprema Cátedra, que por imperscrutável
disposição da Providência, ainda que indigno, ocupamos, mas também de todas as
Igrejas particulares, é, sem dúvida, um dos principais o de manter e promover o
decoro da Casa de Deus, onde se celebram os augustos mistérios da religião e o
povo cristão se reúne, para receber a graça dos Sacramentos, assistir ao Santo
Sacrifício do altar, adorar o augustíssimo Sacramento do Corpo do Senhor e
unir-se à oração comum da Igreja na celebração pública e solene dos ofícios
litúrgicos[...].
Nada, pois, deve
suceder no templo que perturbe ou, sequer, diminua a piedade e a devoção das
fiéis, nada que dê justificado motivo de desgosto ou de escândalo, nada,
sobretudo, que diretamente ofenda o decoro e a santidade das sacras funções e
seja por isso indigno da Casa de Oração e da majestade de Deus[...]."
E por isso, de própria
iniciativa e ciência certa, publicamos a Nossa presente instrução; será ela
como que um código jurídico de Música Sacra; e, em virtude da plenitude de
Nossa Autoridade Apostólica, queremos que se lhe dê força de lei, impondo a
todos, por este Nosso quirógrafo, a sua mais escrupulosa observância.3"
Aqui temos a colocação
do Papa São Pio X sobre a grande influência da música sacra para as práticas de
piedades e contemplação na santa missa, esta que não deve tirar a atenção dos
fiéis nem perturbar a devoção, dando a Igreja a unidade pelo canto gregoriano
como também relembrado pelo Papa Bento XVI ao dizer que o canto gregoriano
representava a unidade da Igreja.
O mesmo vem nos lembrar
o Concílio Vaticano II, ou ao menos numa tentativa de trazer na proposta na
constituição dogmática sobre a sagrada liturgia, Sacrosanctum Concilium que
diz: "O Igreja reconhece o canto gregoriano como próprio da liturgia
romana. Por isso, na ação litúrgica, tem, indiscutivelmente, prioridade sobre
todos os outros.4"
E também nos artigos
anteriores: "Não se abandone porém completamente a recitação ou o canto em
latim, das partes do ordinário da missa que competem aos fiéis.5"
Inclusive o próprio
documento atenta para a formação de coros: "O tesouro que representa a
música sacra deve ser conservado e desenvolvido com o maior carinho. Promova-se
a formação de coros, especialmente junto às catedrais. Os bispos e demais
pastores procurem fazer com que os fiéis, no papel que lhes cabe, participem
ativamente de todas as celebrações litúrgicas, de acordo com o estabelecimento
nos artigos 28 e 30.6"
São Pio X sintetiza bem
como não fugir da liturgia quando trata dos gêneros de Música Sacra: " Por
tais motivos, o canto gregoriano foi sempre considerado como o modelo supremo
da música sacra, podendo com razão estabelecer-se a seguinte lei geral: uma
composição religiosa será tanto mais sacra e litúrgica quanto mais se aproxima
no andamento, inspiração e sabor da melodia gregoriana, e será tanto menos
digna do templo quanto mais se afastar daquele modelo supremo.7" Ou seja,
na medida em que a música for se afastando muito do canto gregoriano, querendo
promover apenas um clima de "alegria e festa" não estamos mais
falando do rito divino e sim do homem.
Então o que abriu espaço
para os erros e músicas do gênero que encontramos hoje em nossas paróquias?
A abertura pode ter
sido a uma possível ambigüidade nas definições sobre os cânticos religiosos
populares:
"Os cânticos
populares religiosos devem ser cultivados, de modo que nas manifestações de
piedade, e mesmo nas ações litúrgicas, de acordo com as normas e exigências
rituais, se possa ouvir a voz do povo.8"
Aqui podemos fazer uma
ponto com um aspecto do início do nosso texto, o fato da missa ser
"sentida", possivelmente, muitos músicos e leigos podem confundir
manifestações de piedade com sentimentalismo, fazendo com que músicas que
apenas falam de Deus, mas não coincidem com o tempo litúrgico e o Evangelho
adentrem na liturgia. Logo, isso ajuda a entender o porque em muitas paróquias
cantam "Romaria", "Sou caipira, pira pora Nossa Senhora de
Aparecida...", "Nossa Senhora me de a mão, cuida do meu coração, da
minha vida, do meu destino, do meu caminho, cuida de mim."
Outro grande equívoco
pode ser dado a partir da má interpretação sobre a música sacra nas missões e
com isso devido a miscigenação e do sincretismo, ganha espaço na santa missa:
"Em muitas regiões, especialmente nas missões, o povo tem uma tradição
musical própria, que desempenha um papel relevante, tanto na sua vida social
como religiosa. É preciso lhe dar a devida importância e um lugar de destaque
no culto, tanto para favorecer o desenvolvimento de sua religiosidade, como
para que o culto esteja realmente ajustado à sua realidade, de acordo com o
espírito do artigos 39 e 40. Por isso, na educação musical dos missionários,
faça-se o possível para que sejam capazes de assumir a tradição musical do
povo, tanto nas escolas como nas celebrações religiosas.9". Sobre este
ponto é necessário uma exigência muito forte para não cair no que Bento XVI
chamava de hermenêutica da ruptura, ou seja, se levarmos ao pé da letra
exatamente como está escrito, tal artigo justificaria o porque dos tambores,
guitarras, baterias, piano (sem função de órgão) entre outros instrumentos condenados
por São Pio X que distorcem a espiritualidade divina que deveria está toda
assembléia submetida. Por exemplo, se a cultura da Bahia possui um forte
sincretismo entre o espiritismo e o catolicismo, seria ideal tocar tambor na
missa devido a esta cultura local? Nesse momento devemos ter bastante enraizado
que missa é a celebração do Sacrifício do Calvário.10.
Assim, podemos concluir
que para melhor formação litúrgica quanto a música, vale a exigência de São Pio
X: "Tenha-se o cuidado de restabelecer, ao menos nas igrejas principais,
as antigas Scholae Cantorum, como se há feito já, com ótimo fruto, em muitos
lugares. Não é difícil, ao clero zeloso, instituir tais Scholae, mesmo nas
igrejas de menor importância, e até encontrará nelas um meio fácil para reunir
em volta de si os meninos e os adultos, com proveito para eles e edificação do
povo. Procure-se sustentar e promover, do melhor modo, as escolas superiores de
música sacra, onde já existem, e concorrer para as fundar, onde as não há. É
sumamente importante que a mesma igreja atenda à instrução dos seus mestres de
música, organistas e cantores, segundo os verdadeiros princípios da arte sacra.
11" e a formação inicial colocada no início deste texto conforme o número
116 da constituição da Sacrosanctum Concilium.
Sendo assim, podemos concluir que são ilícitos:
- Todo instrumento que perturbe a piedade e devoção dos ritos
- Sendo a Santa Missa, o Sacrifício do Calvário, não é permitido as palmas tendo em vista a preservação e contemplação maior que é o rito em si que gira todo em torno do Sacrifício do Calvário.
- Músicas populares de artistas que não possuem vida espiritual madura e ou que se pronunciam contrárias a fé da Igreja, na tradição, sagradas escrituras e no seu magistério.
- Músicas que possuem letras profanas.
- Músicas que alteram o texto e que se coloquem "refrões".
- Músicas com grande introdução e ou demoram a serem finalizadas, tornando então o sacerdote e a missa dependentes do tempo da música.
- Músicas fora do tempo litúrgico e que não condizem com o Evangelho proposto no dia.
- Todo instrumento que perturbe a piedade e devoção dos ritos
- Sendo a Santa Missa, o Sacrifício do Calvário, não é permitido as palmas tendo em vista a preservação e contemplação maior que é o rito em si que gira todo em torno do Sacrifício do Calvário.
- Músicas populares de artistas que não possuem vida espiritual madura e ou que se pronunciam contrárias a fé da Igreja, na tradição, sagradas escrituras e no seu magistério.
- Músicas que possuem letras profanas.
- Músicas que alteram o texto e que se coloquem "refrões".
- Músicas com grande introdução e ou demoram a serem finalizadas, tornando então o sacerdote e a missa dependentes do tempo da música.
- Músicas fora do tempo litúrgico e que não condizem com o Evangelho proposto no dia.
(Texto: Equipe Lumine Fidei)
Notas:
1- (cf. SC,7)"
2- (Catecismo da
Doutrina Cristã, São Pio X, Cap. III, n. 259)
3- (Motu Proprio, Tra
le Sollecitudini, São Pio X, Introdução)
4- (CVII, Const. Sobre
a Liturgia, Sacrosanctum Concilium, n. 116)
5- (CVII, Const. Sobre
a Liturgia, Sacrosanctum Concilium, n. 54)
6- (CVII, Const. Sobre
a Liturgia, Sacrosanctum Concilium, n. 114)
7- (Motu Proprio, Tra le Sollecitudini, São Pio
X, Gênero de Música Sacra, n.3)
8- (CVII, Const. Sobre
a Liturgia, Sacrosanctum Concilium, n. 118)
9- (CVII, Const. Sobre
a Liturgia, Sacrosanctum Concilium, n. 119)
10- (Catecismo da
Doutrina Cristã, São Pio X, Cap. V. n. 652)
11- (Motu Proprio, Tra
le Sollecitudini, São Pio X, VIII, n. 27,28)
Bibliografias:
1) Catecismo da
Doutrina Cristã, São Pio X.
2) Motu Proprio, Tra le
Sollecitudini, São Pio X sobre Música Sacra.
3) Concílio Ecumênico
Vaticano II, Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada
liturgia.
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