"Educar é coisa do coração"

"Educar é coisa do coração"
"Educar é coisa do coração" São Bosco

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O que não é música litúrgica.

Para tratarmos sobre o porque nem todas as músicas serem litúrgicas, vejamos uma breve frase que sintetiza bem o que é a liturgia:

"A Liturgia é uma ação sagrada, com ritos, na Igreja e pela Igreja, pela qual se realiza e se prolonga a obra sacerdotal de Cristo, para a santificação dos homens e a glorificação de Deus.1"

Então a partir daí podemos ter uma breve conclusão de imediato: Liturgia é um Rito Divino. Logo, se é Divino é de Deus, sendo Ele o centro, a partir do momento em que o homem assume esse lugar no rito, este não se torna mais divino e se resume em algo mais antropológico, voltado para o homem, o homem no centro.

E o que leva o homem assumir a postura de ser o centro do rito?

Primeiro tenhamos em mente que o homem é dotado de inteligência e vontade, pois é o que o torna racional. Entretanto, existe mais um vetor que entra na história que são suas paixões que nada mais são que as comoções ou movimentos violentos da alma que, se não são moderadas pela razão, arrastam ao vício e, muitas vezes, inclusive ao crime.2
Isso é devido a sua falta de referência do que é sagrado, o que se celebra e o que se deve seguir. Após o Concílio Vaticano II, foi pedido para que os Crucifixos Maiores fosses colocados no centro da Igreja para mostrar que Cristo é o Centro, porém, alguns sacerdotes (que também são homens), ao ficar agora de costas para cruz parecem que perdem totalmente o referencial e, agora o que ele olha diante de si são apenas mais homens. Os mesmos que possuem tanto vícios como virtudes. Agora esse padre tem esses outros homens (assembléia) como primeira referência visual e, isso pode acarretar em alguns crimes litúrgicos. O primeiro dele já começa com o consentimento do pensamento em que a Santa Missa deve agradar ao homem por meio de suas reações sentimentais, positivas ou negativas. Aí é onde mora o perigo, a cultura do: "Precisamos de uma missa alegre, a missa do povo". Quando esse pensamento cria raízes, agora a missa não tem como o principal objetivo ser celebrada e sim ser "sentida", uma missa para ser boa "eu tenho que sentir", a partir daí cria a mentalidade: "vamos à missa de padre fulano, lá é animada, ele tem a unção."

Onde que entra a música nisto?

Muito simples, nessa época moderna em que vivemos, muitos templos já não possuem mais aquela arquitetura contemplativa que nos remetia a algo ou uma inspiração divina como nas antigas Igrejas. Logo, torna mais exigente da música trazer até a assembléia essa espiritualidade.
Quantas vezes por exemplo estamos na Santa Missa e com o pensamento em qualquer outra coisa ou em qualquer outro lugar? Como conseguimos desprender nossa atenção assim tão facilmente de algo que a princípio seria divino?

Para estas perguntas tenhamos alguns artigos em mente, o seguinte ensinamento do Motu Proprio de São Pio X sobre música sacra:

"Entre os cuidados do ofício pastoral, não somente desta Suprema Cátedra, que por imperscrutável disposição da Providência, ainda que indigno, ocupamos, mas também de todas as Igrejas particulares, é, sem dúvida, um dos principais o de manter e promover o decoro da Casa de Deus, onde se celebram os augustos mistérios da religião e o povo cristão se reúne, para receber a graça dos Sacramentos, assistir ao Santo Sacrifício do altar, adorar o augustíssimo Sacramento do Corpo do Senhor e unir-se à oração comum da Igreja na celebração pública e solene dos ofícios litúrgicos[...].
Nada, pois, deve suceder no templo que perturbe ou, sequer, diminua a piedade e a devoção das fiéis, nada que dê justificado motivo de desgosto ou de escândalo, nada, sobretudo, que diretamente ofenda o decoro e a santidade das sacras funções e seja por isso indigno da Casa de Oração e da majestade de Deus[...]."
E por isso, de própria iniciativa e ciência certa, publicamos a Nossa presente instrução; será ela como que um código jurídico de Música Sacra; e, em virtude da plenitude de Nossa Autoridade Apostólica, queremos que se lhe dê força de lei, impondo a todos, por este Nosso quirógrafo, a sua mais escrupulosa observância.3"

Aqui temos a colocação do Papa São Pio X sobre a grande influência da música sacra para as práticas de piedades e contemplação na santa missa, esta que não deve tirar a atenção dos fiéis nem perturbar a devoção, dando a Igreja a unidade pelo canto gregoriano como também relembrado pelo Papa Bento XVI ao dizer que o canto gregoriano representava a unidade da Igreja.

O mesmo vem nos lembrar o Concílio Vaticano II, ou ao menos numa tentativa de trazer na proposta na constituição dogmática sobre a sagrada liturgia, Sacrosanctum Concilium que diz: "O Igreja reconhece o canto gregoriano como próprio da liturgia romana. Por isso, na ação litúrgica, tem, indiscutivelmente, prioridade sobre todos os outros.4"
E também nos artigos anteriores: "Não se abandone porém completamente a recitação ou o canto em latim, das partes do ordinário da missa que competem aos fiéis.5"
Inclusive o próprio documento atenta para a formação de coros: "O tesouro que representa a música sacra deve ser conservado e desenvolvido com o maior carinho. Promova-se a formação de coros, especialmente junto às catedrais. Os bispos e demais pastores procurem fazer com que os fiéis, no papel que lhes cabe, participem ativamente de todas as celebrações litúrgicas, de acordo com o estabelecimento nos artigos 28 e 30.6"

São Pio X sintetiza bem como não fugir da liturgia quando trata dos gêneros de Música Sacra: " Por tais motivos, o canto gregoriano foi sempre considerado como o modelo supremo da música sacra, podendo com razão estabelecer-se a seguinte lei geral: uma composição religiosa será tanto mais sacra e litúrgica quanto mais se aproxima no andamento, inspiração e sabor da melodia gregoriana, e será tanto menos digna do templo quanto mais se afastar daquele modelo supremo.7" Ou seja, na medida em que a música for se afastando muito do canto gregoriano, querendo promover apenas um clima de "alegria e festa" não estamos mais falando do rito divino e sim do homem.

Então o que abriu espaço para os erros e músicas do gênero que encontramos hoje em nossas paróquias?

A abertura pode ter sido a uma possível ambigüidade nas definições sobre os cânticos religiosos populares:

"Os cânticos populares religiosos devem ser cultivados, de modo que nas manifestações de piedade, e mesmo nas ações litúrgicas, de acordo com as normas e exigências rituais, se possa ouvir a voz do povo.8"

Aqui podemos fazer uma ponto com um aspecto do início do nosso texto, o fato da missa ser "sentida", possivelmente, muitos músicos e leigos podem confundir manifestações de piedade com sentimentalismo, fazendo com que músicas que apenas falam de Deus, mas não coincidem com o tempo litúrgico e o Evangelho adentrem na liturgia. Logo, isso ajuda a entender o porque em muitas paróquias cantam "Romaria", "Sou caipira, pira pora Nossa Senhora de Aparecida...", "Nossa Senhora me de a mão, cuida do meu coração, da minha vida, do meu destino, do meu caminho, cuida de mim."

Outro grande equívoco pode ser dado a partir da má interpretação sobre a música sacra nas missões e com isso devido a miscigenação e do sincretismo, ganha espaço na santa missa: "Em muitas regiões, especialmente nas missões, o povo tem uma tradição musical própria, que desempenha um papel relevante, tanto na sua vida social como religiosa. É preciso lhe dar a devida importância e um lugar de destaque no culto, tanto para favorecer o desenvolvimento de sua religiosidade, como para que o culto esteja realmente ajustado à sua realidade, de acordo com o espírito do artigos 39 e 40. Por isso, na educação musical dos missionários, faça-se o possível para que sejam capazes de assumir a tradição musical do povo, tanto nas escolas como nas celebrações religiosas.9". Sobre este ponto é necessário uma exigência muito forte para não cair no que Bento XVI chamava de hermenêutica da ruptura, ou seja, se levarmos ao pé da letra exatamente como está escrito, tal artigo justificaria o porque dos tambores, guitarras, baterias, piano (sem função de órgão) entre outros instrumentos condenados por São Pio X que distorcem a espiritualidade divina que deveria está toda assembléia submetida. Por exemplo, se a cultura da Bahia possui um forte sincretismo entre o espiritismo e o catolicismo, seria ideal tocar tambor na missa devido a esta cultura local? Nesse momento devemos ter bastante enraizado que missa é a celebração do Sacrifício do Calvário.10.

Assim, podemos concluir que para melhor formação litúrgica quanto a música, vale a exigência de São Pio X: "Tenha-se o cuidado de restabelecer, ao menos nas igrejas principais, as antigas Scholae Cantorum, como se há feito já, com ótimo fruto, em muitos lugares. Não é difícil, ao clero zeloso, instituir tais Scholae, mesmo nas igrejas de menor importância, e até encontrará nelas um meio fácil para reunir em volta de si os meninos e os adultos, com proveito para eles e edificação do povo. Procure-se sustentar e promover, do melhor modo, as escolas superiores de música sacra, onde já existem, e concorrer para as fundar, onde as não há. É sumamente importante que a mesma igreja atenda à instrução dos seus mestres de música, organistas e cantores, segundo os verdadeiros princípios da arte sacra. 11" e a formação inicial colocada no início deste texto conforme o número 116 da constituição da Sacrosanctum Concilium.

Sendo assim, podemos concluir que são ilícitos:
- Todo instrumento que perturbe a piedade e devoção dos ritos
-  Sendo a Santa Missa, o Sacrifício do Calvário, não é permitido as palmas tendo em vista a preservação e contemplação maior que é o rito em si que gira todo em torno do Sacrifício do Calvário.
- Músicas populares de artistas que não possuem vida espiritual madura e ou que se pronunciam contrárias a fé da Igreja, na tradição, sagradas escrituras e no seu magistério.
- Músicas que possuem letras profanas.
- Músicas que alteram o texto e que se coloquem "refrões".
- Músicas com grande introdução e ou demoram a serem finalizadas, tornando então o sacerdote e a missa dependentes do tempo da música.
- Músicas fora do tempo litúrgico e que não condizem com o Evangelho proposto no dia.





(Texto: Equipe Lumine Fidei)

Notas:
1- (cf. SC,7)"
2- (Catecismo da Doutrina Cristã, São Pio X, Cap. III, n. 259)
3- (Motu Proprio, Tra le Sollecitudini, São Pio X, Introdução)
4- (CVII, Const. Sobre a Liturgia, Sacrosanctum Concilium, n. 116)
5- (CVII, Const. Sobre a Liturgia, Sacrosanctum Concilium, n. 54)
6- (CVII, Const. Sobre a Liturgia, Sacrosanctum Concilium, n. 114)
7-  (Motu Proprio, Tra le Sollecitudini, São Pio X, Gênero de Música Sacra, n.3)
8- (CVII, Const. Sobre a Liturgia, Sacrosanctum Concilium, n. 118)
9- (CVII, Const. Sobre a Liturgia, Sacrosanctum Concilium, n. 119)
10- (Catecismo da Doutrina Cristã, São Pio X, Cap. V. n. 652)
11- (Motu Proprio, Tra le Sollecitudini, São Pio X, VIII, n. 27,28)

Bibliografias:

1) Catecismo da Doutrina Cristã, São Pio X.
2) Motu Proprio, Tra le Sollecitudini, São Pio X sobre Música Sacra.

3) Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada liturgia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário